A eleição norte-americana à presidência de 2008 marcou uma nova forma de se usar a tecnologia. Barack Obama foi o destaque, potencializando o uso da internet. Foi bastante presente nas inúmeras ferramentas da web 2.0 (YouTube, Twitter etc.). O perfil do candidato no Facebook, por exemplo, se tornou um dos mais populares dessa rede social.
Além disso, utilizou a internet para conseguir recursos para sua campanha (US$ 640 milhões, grande parte proveniente de pequenas doações), manter seus apoiadores informados (o candidato revelou o nome do seu vice via SMS) e construir uma sólida base de dados, transformando muitos deles em voluntários.
Como gozou de grande apoio da população -principalmente dos mais jovens- e de artistas, a campanha de Obama foi pródiga em disseminar virais. Dois momentos de destaque: o vídeo criado por Will.i.am (Black Eyed Peas), que conta com várias celebridades e que foi inspirado num discurso feito por Barack Obama, foi visto milhões de vezes. Outro momento de grande repercussão foi o comício feito pelo candidato democrata, em Berlim, para mais de 200 mil pessoas. Muitos jovens tiraram fotos e filmaram o momento. Essas imagens foram bastante divulgadas em blogs.
Não se trata de algo propriamente novo. Há quatro anos, Howard Dean, então pré-candidato à presidência e atual presidente do partido democrata, conseguiu visibilidade durante as primárias usando uma tática similar. A mesma equipe dessa campanha foi a responsável pela criação do projeto Obama.com.
Caminho distinto
Já o oponente de Obama, o republicano John McCain, não conseguiu bons resultados online. Mas até ele, que dizia ter dificuldade para enviar e-mails, inovou. Sua filha, Meghan, criou um blog para revelar os bastidores da campanha, possibilitando uma perspectiva diferente para se acompanhar uma campanha eleitoral.
Novas táticas
A grande mídia aproveitou a ocasião para testar inúmeras ferramentas online, muitas delas relacionadas a vídeos e newsgames. Também aproveitaram para disponibilizar trechos de debates e reportagens em seus sites ou em projetos online. Como a página de hospedagem de vídeos Hulu. Pertencente aos grupos NBC Universal e News Corp, trazia material jornalístico de praxe e vídeos de esquetes do programa humorístico Saturday Night Live (SNL). John McCain, sua vice, Sarah Palin, passaram por lá, bem como Hillary Clinton, então pré-candidata pelo partido democrata.
Em relação aos sites, o coletivo de blogs The Huffington Post, de tendência mais liberal, viu sua audiência e seu prestígio aumentar, muitas vezes pautando os demais meios de comunicação. Na frente conservadora, destacou-se o Drudge Report.
Obviamente, também houve espaço para denúncias via blogs, divulgação de vídeos com momentos constrangedores dos candidatos etc. Até a conta de e-mail de Sarah Palin no Yahoo! foi invadida.
Qual o resultado?
Maior utilização da internet para obter conhecimento, troca de idéias e criação de conteúdo pelos usuários. Ampliação do uso da internet e do acesso via banda larga. A importância da rede nessa campanha foi expressiva, mas não pode ser encarada como único fator importante. Também influenciaram a grande rejeição ao atual presidente, George Bush, uma guerra em curso questionada (a Guerra do Iraque) e ainda uma crise econômica (esses três pontos sendo importantes para a rejeição ao candidato da situação, John McCain), dentre outros fatores.
Ademais, há também as características peculiares da realidade norte-americana, como um processo eleitoral em que o voto popular não garante a vitória nas urnas (o que conta são os pontos que os estados representam) e a tradição do país em que quase sempre os filhos herdam a orientação política dos pais.
De toda forma, o que pareceu ser novo nesse ano, deve virar uma tendência nas próximas eleições (muito provavelmente em outros países). Acima de tudo, separar os elementos da comunicação em receptores e emissores se torna mais difícil. Esses conceitos já se misturaram.
No mesmo período, no Brasil, o TSE limitou o uso da internet nas eleições municipais. De toda forma, há novidades. Ao contrário de anos recentes, deverá ser permitido demonstrar apoio via mídia social, bem como será possível fazer doações online, vide modelo bem-sucedido de Obama.